O futuro da alimentação nas Américas
Introdução
A segurança alimentar está no núcleo da segurança nacional, regional e global. Quando as sociedades possuem segurança alimentar, elas têm muito mais chances de alcançar estabilidade social e política; quando não a possuem, ocorre o contrário. Felizmente, o hemisfério ocidental — as Américas — é uma região com segurança alimentar. Embora o acesso aos alimentos continue sendo um desafio constante, a abundância de alimentos geralmente caracteriza as Américas, graças a uma base favorável de recursos naturais, condições geopolíticas estáveis e ampla cooperação entre os setores público e privado para aprimorar os métodos de produção e promover a inovação.
Entretanto, o futuro pode não se parecer com o passado. Diversos fatores determinantes de mudança podem alterar a trajetória da segurança alimentar no hemisfério, ameaçando a estabilidade e a produtividade dos atuais sistemas agroalimentares ou, alternativamente, oferecendo a esperança de que esses sistemas se tornem ainda mais fortes e resilientes. Esses fatores incluem o declínio de ecossistemas saudáveis e estáveis, as rápidas transformações na geopolítica, a erosão das instituições multilaterais, o aumento da inflação e da volatilidade dos preços dos alimentos, o potencial da inovação e das tecnologias emergentes, bem como as mudanças geracionais na agricultura e na produção agropecuária.
Embora essas forças se interconectem, muitos líderes as veem como desafios isolados. A interação entre elas multiplica o dinamismo do sistema, o que exigirá que formuladores de políticas públicas, líderes empresariais, investidores e produtores rurais encontrem soluções inovadoras diante de um cenário agroalimentar em rápida transformação — e não totalmente previsível.

Alimentação, sociedade e política
Nenhum outro bem exerce impacto tão significativo sobre a sociedade e a política quanto os alimentos, pois as pessoas precisam se alimentar todos os dias. Muitas vezes, basta um único grande choque nos preços dos alimentos para alterar as dinâmicas sociais e políticas dentro de um país ou até mesmo em toda uma região. Embora preços elevados de alimentos tenham um impacto desproporcionalmente negativo sobre países vulneráveis, pobres e frágeis, eles também podem afetar de maneira significativa países que, de outra forma, seriam ricos e estáveis.
A definição padrão de segurança alimentar, adotada em 1996 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/Food and Agriculture Organization) e apenas ligeiramente revisada desde então, é:
A segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para atender às suas necessidades dietéticas e preferências alimentares, permitindo uma vida ativa e saudável.
Algumas peças importantes do quebra-cabeça da segurança alimentar estão ausentes nesta formulação. Uma delas é a estabilidade ecológica. A segurança alimentar depende da sustentabilidade dos sistemas terrestres subjacentes, essenciais à produção de alimentos. A segunda é a estabilidade do sistema internacional, especificamente a estabilidade de uma ordem comercial baseada em regras, que garante que os alimentos possam se mover com facilidade de países com excedentes para países com déficits alimentares.
Essas condições não devem ser tratadas como garantidas. Olhando para o futuro, é provável que o mundo se torne mais dinâmico — e não o contrário — com ganhos e perdas. Para prosperar, os sistemas agroalimentares globais precisarão se tornar mais resilientes e adaptáveis.

Segurança alimentar nas américas
O hemisfério ocidental desempenha um papel indispensável na segurança alimentar global.
Lado da oferta: Produção agrícola nas Américas
Os cinco maiores países produtores de culturas agrícolas primárias do mundo (em volume) estão todos nas Américas: Brasil, Estados Unidos, Argentina, México e Canadá. O hemisfério também abriga os principais exportadores das quatro principais culturas globais: soja, milho, trigo e arroz. Além disso, as Américas produzem uma ampla variedade de culturas especiais, incluindo café, abacate, limões, limas, laranjas, mirtilos, cerejas, quinoa, amêndoas e outras.
A agricultura continua sendo uma peça fundamental das economias nacionais nas Américas. Em grande parte dos países, sua participação no PIB é superior a 5%, e em alguns casos ultrapassa 10%.
Lado da demanda: Calorias e nutrição
A definição de segurança alimentar da FAO enfatiza que, se as pessoas não tiverem acesso a uma dieta nutritiva a preços acessíveis e estáveis, elas não estarão em situação de segurança alimentar.
Nas últimas décadas, o hemisfério ocidental reduziu gradualmente seu nível de insegurança alimentar. Comparativamente, teve um bom desempenho. Entre 1990 e 2015, a América Latina e o Caribe foram as únicas regiões do mundo a reduzir a fome pela metade. Atualmente, o hemisfério apresenta desempenho superior à média mundial em indicadores de desnutrição, insegurança alimentar grave e prevalência de emagrecimento em crianças pequenas, (embora vários países apresentem desempenho inferior, incluindo Haiti, Bolívia, Honduras, Equador e Guatemala). Em métricas relacionadas a dietas inadequadas, como sobrepeso e obesidade, as Américas tiveram desempenho menos favorável.
Por fim, as mulheres nas Américas têm uma probabilidade ligeiramente maior do que os homens de enfrentar insegurança alimentar.

Fatores de transformação nas américas, e além
A segurança alimentar nas Américas enfrenta diversos fatores significativos e interconectados de transformação.
Transformações ecológicas
Os riscos ecológicos estão entre as maiores ameaças à segurança alimentar. Os principais riscos incluem mudanças climáticas, desmatamento, perda de biodiversidade e erosão e degradação do solo. Talvez o mais preocupante para a produção agrícola seja a combinação de seca e calor — as chamadas condições “quentes e secas” — que ameaçam se tornar mais frequentes em todo o mundo e nas Américas. Um cenário desanimador para o futuro é a ocorrência de múltiplas falhas nas “breadbaskets” (quebras simultâneas de safra em regiões produtoras de grãos-chave). As Américas, que abrigam vários dos principais produtores mundiais de culturas alimentares básicas, enfrentam essa possibilidade. As mudanças climáticas também terão impacto negativo sobre a maioria das culturas especiais, incluindo café e bananas.
Os agricultores serão impactados de maneiras diferentes, dependendo de onde se localizam no hemisfério, do tamanho e dos recursos de suas propriedades (financeiros e de outra natureza), de serem agricultores de subsistência ou estarem integrados aos mercados nacionais, regionais e globais, e dos tipos de culturas que cultivam. Os pequenos produtores em contextos menos favorecidos estarão sob maior risco, devido ao tamanho reduzido de suas propriedades e à falta de acesso a seguros e a outros recursos.
Potencialmente, transformações ecológicas com impactos em larga escala podem gerar déficits significativos na oferta global de alimentos, provocando pânico nos mercados, elevação de preços, acúmulo de estoques e colapso do comércio. A insegurança alimentar aumentaria drasticamente
Turbulência geopolítica e geoeconômica
Um segundo conjunto de riscos decorre da crescente incerteza geopolítica e geoeconômica. Um sistema comercial aberto e baseado em regras tem sido essencial para o avanço da segurança alimentar, promovendo maior integração econômica — o que beneficia a segurança alimentar por meio de crescimento econômico mais elevado, maior geração de empregos, aumento de renda, redução da pobreza e dinamismo econômico.
Ainda assim, o sistema global de comércio de alimentos tem sido impactado por diversos eventos geopolíticos significativos, incluindo guerras (como a guerra na Ucrânia), políticas comerciais e sanções que geram choques inesperados sobre insumos agrícolas, cadeias de suprimentos e exportações agroalimentares — resultando em aumento dos custos de produção e dos preços dos alimentos.
O sistema de comércio agroalimentar pode estar retornando a uma ordem protecionista anterior aos anos 1990, quando os países costumavam aplicar tarifas elevadas apenas sobre algumas culturas politicamente sensíveis (como açúcar ou algodão). O protecionismo atual, no entanto, é significativamente mais amplo, afetando um número maior de culturas e sendo implementado por uma lista cada vez mais extensa de países.
Os padrões de comércio estão se transformando em função da geopolítica. O comportamento da China é um exemplo significativo. Há uma década, a China importava mais produtos agrícolas dos Estados Unidos do que do Brasil; atualmente, importa quase o dobro do Brasil em relação aos EUA. Esse processo de desacoplamento da China em relação ao mercado agrícola norte-americano contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior exportador mundial de soja. Além disso, após a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, em agosto de 2025, sobre determinados produtos agrícolas brasileiros, é provável que o Brasil intensifique seu interesse em desenvolver mercados de exportação alternativos para produtos agrícolas, incluindo a China.
Incerteza institucional
As instituições multilaterais têm contribuído para proporcionar uma prosperidade sem precedentes — embora desigual — ao impulsionar o comércio global e hemisférico. No entanto, essas instituições estão agora sob enorme pressão. As maiores potências comerciais do mundo, assim como muitos países menores, têm demonstrado disposição para romper normas estabelecidas e leis internacionais de comércio, gerando incertezas em torno das regras que regem o sistema comercial.
As Américas se beneficiam mais do que outras regiões de um sistema global de comércio aberto de produtos agrícolas. A agricultura sempre foi um tema controverso nas negociações comerciais, desde a origem, na década de 1940, do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT/General Agreement on Tariffs and Trade). Apesar disso, instituições multilaterais funcionais são valiosas, pois criam um mercado global estável e baseado em regras, que, por sua vez, possibilita o comércio de alimentos em larga escala.
Inflação e volatilidade dos preços
A insegurança alimentar se agrava com a rápida inflação de preços e a elevada volatilidade dos preços. Desde os anos 2000, choques geraram novos patamares mais altos de preços. Os alimentos se tornaram menos acessíveis, e as famílias enfrentam maior dificuldade para consumir uma dieta saudável.
A inflação e a volatilidade dos preços dos alimentos são tão problemáticas nas Américas quanto em outras regiões do mundo, tornando-se uma questão social e política fundamental. Na América Latina, o aumento dos preços dos alimentos tem sido um dos principais impulsionadores da inflação em toda a região, enquanto na América do Norte, o aumento dos preços dos alimentos é uma das principais causas da crise do custo de vida enfrentada por muitas famílias.

Investimento: Inovação, tecnologia e infraestrutura
A inovação dentro e fora das propriedades rurais, aliada ao aumento da produtividade, decorrentes de avanços processuais e tecnológicos, além de melhorias na infraestrutura, têm sido fundamentais para aumentar a oferta de alimentos e atender à crescente demanda. Desde a década de 1990, os ganhos globais de eficiência superaram amplamente os demais fatores, incluindo o uso de mais insumos por hectare de terra, a extensão da irrigação em áreas cultivadas e a expansão de novas terras agrícolas (por exemplo, a expansão da agricultura em áreas anteriormente florestadas).
Infelizmente, o crescimento global da Produtividade Total dos Fatores (PTF — métrica de eficiência que relaciona os insumos agrícolas aos resultados obtidos) está desacelerando. Após décadas de crescimento contínuo, a PTF passou a registrar queda, especialmente nas Américas.
Os investimentos em infraestrutura em grande parte das Américas também permanecem subdesenvolvidos, sendo necessários trilhões de dólares para impulsionar a infraestrutura do hemisfério. No caso do Canadá, por exemplo, o déficit de infraestrutura — estimado em cerca de US$ 200 bilhões — é particularmente relevante para as exportações agrícolas do país, que têm importância global. Essas exportações incluem produtos alimentares como grãos e insumos agrícolas essenciais, como fertilizantes produzidos no vasto interior canadense. Para viabilizar o transporte desses produtos volumosos aos mercados externos de forma mais barata e eficiente, será necessário modernizar a infraestrutura logística do país.
Mudanças demográficas
A participação do emprego agrícola no PIB global vem diminuindo há décadas. O hemisfério ocidental tem seguido essa tendência, evidenciando que a agricultura está se tornando mais intensiva em capital e mais produtiva. Cada vez mais alimentos são produzidos por pessoa contratada no setor.
No entanto, há um efeito geracional negativo associado a essa tendência demográfica. Os agricultores em todo o mundo estão envelhecendo, em parte devido à redução das oportunidades de emprego no campo. Essa dinâmica é mais acentuada nas regiões mais ricas, que apresentam a menor participação relativa de empregos no setor agrícola, como a União Europeia e os Estados Unidos.

Construindo a segurança alimentar do futuro
O mundo precisa de uma nova e ousada forma de pensar sobre a segurança alimentar — uma abordagem que incorpore uma compreensão abrangente de como forças divergentes estão criando um cenário agroalimentar dinâmico e instável, que moldará o futuro de maneiras imprevisíveis.
Ecologia
Um dos principais desafios será garantir que a produção de alimentos continue sendo lucrativa e resiliente diante das mudanças ecológicas disruptivas. É possível encontrar sinergias entre serviços ecossistêmicos saudáveis, uma produção agrícola robusta e lucratividade, por meio da aplicação adequada de imaginação, criatividade, formulação de políticas públicas, investimentos e ações práticas, baseadas na contribuição e no conhecimento de agricultores e comunidades rurais.
A agricultura é um dos principais vetores das mudanças ecológicas, incluindo as relacionadas aos padrões de uso da terra e emissões de carbono. No entanto, ao mesmo tempo, a agricultura também possui um enorme potencial — sob as condições domésticas e internacionais adequadas — para oferecer soluções sólidas e duradouras.
Abordagens sinérgicas incluem uma variedade de técnicas e práticas agrícolas alternativas, bem como tecnologias emergentes, como agricultura regenerativa, cultivo sem revolvimento do solo (no-till farming), sistemas agroflorestais, agricultura inteligente para o clima (climate-smart agriculture) e o Manejo 4R de Nutrientes (4R Nutrient Stewardship) — um conjunto de práticas de gestão de nutrientes que prioriza o uso das fontes corretas, nas doses certas, nos momentos adequados e nos locais apropriados.
Embora muitas dessas abordagens tenham sido consideradas, no passado, experimentais, inovadoras e não comprovadas, hoje essa percepção mudou significativamente. A agricultura regenerativa, por exemplo, conta hoje com um número crescente de adeptos — incluindo produtores rurais — que acreditam em seu potencial para gerar benefícios ambientais concretos sem comprometer a produtividade das lavouras. Há uma quantidade expressiva de terras, incluindo solos, que poderiam ser revitalizadas por meio dessas práticas. Nas Américas, a degradação representa um problema grave, mas também uma grande oportunidade. O Brasil, por si só, possui extensas áreas de pastagens degradadas que poderiam ser reincorporadas à produção agrícola por meio de métodos regenerativos, contribuindo para reduzir a pressão por conversão de florestas nas regiões do Cerrado e da Amazônia.
Comércio, geopolítica e instituições
O aumento do protecionismo e da competição geopolítica enfraquece a cooperação entre os Estados, desgastando a confiança internacional. O comércio global de alimentos depende da força das instituições multilaterais e dos acordos internacionais — instituições que, muitas vezes, não recebem o devido reconhecimento por sua contribuição à segurança alimentar mundial. Atualmente, essas instituições vêm sendo enfraquecidas, e o risco é o colapso de todo o sistema multilateral de comércio.
Mais diálogo entre os Estados é um antídoto para esse cenário. Um dos objetivos deve ser a construção de instituições alternativas — por exemplo, começando com os maiores produtores agrícolas do hemisfério, um grupo “A5” formado por Estados Unidos, Brasil, México, Canadá e Argentina — para reunir ministros da agricultura em torno de um diálogo sobre comércio. Os resultados potenciais incluem convenções regionais de segurança alimentar, compromissos de investimento em pesquisa agrícola e acordos para evitar as políticas que mais distorcem o comércio.
Uma ideia relacionada é a criação de um conselho hemisférico permanente de segurança alimentar, destinado a reunir governos para discutir respostas a choques, identificar caminhos para uma cooperação científica e tecnológica mais ampla e reforçar a norma que reconhece a responsabilidade do hemisfério perante o restante do mundo como um dos principais fornecedores de alimentos. Instituições hemisféricas, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), podem ser mobilizadas para convocar esse conselho.

Investimento em inovação, tecnologia e infraestrutura
A melhoria contínua das atividades dentro e fora das propriedades rurais — incluindo o uso inovador de novas tecnologias e processos, além do investimento de capital nos elementos que os viabilizam (como a infraestrutura) — é fundamental para garantir a segurança alimentar no hemisfério e no mundo.
A agricultura regenerativa e outros sistemas agroalimentares voltados à sustentabilidade podem ser aprimorados por meio da aplicação de tecnologias avançadas. Exemplos incluem:
- Fontes alternativas de energia podem aprimorar os sistemas dentro e fora das propriedades rurais, ao mesmo tempo em que reduzem as marcas das emissões de carbono.
- Ferramentas de sensoriamento remoto geoespacial aplicadas à agricultura de precisão podem identificar e contribuir para a preservação dos recursos ecológicos.
- Tecnologias robóticas e digitais móveis (incluindo a integração mais ampla de dispositivos portáteis às práticas agrícolas) podem aumentar a eficiência da produção agrícola, ao mesmo tempo em que reduzem o impacto ambiental.
- As análises orientadas por inteligência artificial podem integrar e utilizar fluxos de dados provenientes de diversas aplicações.
- As biotecnologias podem melhorar a produtividade no campo e a eficiência no uso de nutrientes, ao mesmo tempo em que protegem recursos ecológicos, como o solo e a água.
Os agricultores são tanto utilizadores quanto criadores de tecnologias e processos inovadores, e precisam ter condições de adotar e aplicar essas inovações. A adoção no campo não é o mesmo que a invenção em laboratório. Pesquisas globais indicam que os produtores rurais tendem a hesitar em adotar novas tecnologias e práticas quando os custos iniciais de investimento são elevados e os retornos financeiros são incertos.
Programas de extensão agrícola financiados com recursos públicos — que conectam pesquisadores a produtores, promovendo aprendizado mútuo e transferência de tecnologia — são fundamentais. O fortalecimento dos serviços de extensão deve estar no centro das estratégias para ampliar a adoção de inovações pelos agricultores.
Aprimorar a infraestrutura para fortalecer as cadeias de suprimento do sistema agroalimentar também é fundamental. Há uma necessidade premente de desenvolver estratégias que enquadrem esse desafio em termos de resiliência social e até mesmo transfronteiriça (internacional).

Agricultores para o futuro
Para evitar o declínio demográfico da agricultura, é fundamental tornar a atividade agrícola financeiramente, social e culturalmente atrativa para as novas gerações. Para os jovens — especialmente aqueles sem vínculo familiar com o setor —, a agricultura pode ser percebida como uma atividade ultrapassada, pouco lucrativa, difícil, distante da realidade ou “sem apelo” — ou todas essas coisas ao mesmo tempo.
Não existe um único conjunto de soluções reconhecidas para reverter as tendências demográficas no setor agrícola. No entanto, evidências de diversas partes do mundo indicam que uma combinação de intervenções pode ser eficaz: facilitar o acesso à atividade agrícola, por meio da redução de barreiras de entrada (como o acesso a financiamento acessível e a terras cultiváveis); reduzir lacunas de conhecimento e habilidades por meio de programas de capacitação prática nas propriedades rurais, bolsas de estudo e estágios supervisionados; incentivar a entrada de perfis não tradicionais na agricultura — como jovens mulheres — e destacar o papel cada vez mais relevante desempenhado pelas tecnologias digitais, pela robótica, pelo Big Data, pelo sensoriamento remoto, pela inteligência artificial e por outras aplicações técnicas que despertam o interesse de jovens ambiciosos e familiarizados com tecnologia.
Breve conclusão
Uma questão crucial é saber se os principais atores do hemisfério — governos, produtores rurais, setor privado, pesquisadores, fundações, organizações da sociedade civil e o público em geral — estarão dispostos a investir em processos e abordagens transformadoras capazes de reduzir riscos e, ao mesmo tempo, aumentar a prosperidade, a sustentabilidade e a resiliência.
Promover a difusão de inovações essenciais para a segurança alimentar será um elemento crucial dessa equação. É indispensável que os países e as instituições multilaterais do hemisfério encontrem fontes de financiamento e reúnam o conhecimento tecnológico necessário para apoiar programas adaptados às necessidades específicas da região.
Outras partes interessadas, não governamentais — incluindo investidores, o setor privado, pesquisadores, cientistas, analistas, além de agricultores e comunidades agrícolas — também deve agir em conjunto para conceber, criar e fortalecer as ferramentas que serão necessárias à garantia de um futuro com segurança alimentar.
agradecimentos
Este relatório foi produzido pelo Atlantic Council com o apoio da The Mosaic Company como parte do projeto Segurança alimentar: Alinhamento estratégico nas Américas.
Sobre os autores
Peter Engelke é pesquisador sênior do Scowcroft Center for Strategy and Security do Atlantic Council, bem como pesquisador sênior do seu Global Energy Center. Seu portfólio diversificado abrange prospecção estratégica; geopolítica, diplomacia e relações internacionais; mudanças climáticas e sistemas terrestres; segurança alimentar, hídrica e energética; tecnologias emergentes e disruptivas e ecossistemas de inovação baseados em tecnologia; e demografia e urbanização, entre outros temas, sendo o criador da série de publicações de formato longo mais lida do Atlantic Council, Global Foresight. As afiliações anteriores de Engelke incluem o Geneva Centre for Security Policy, a Robert Bosch Foundation, o World Economic Forum e o Stimson Center.
Matias Margulis é professor associado da School of Public Policy and Global Affairs e membro do corpo docente de Sistemas Agrícolas e Alimentares da University of British Columbia. Seus interesses de pesquisa e ensino abrangem governança global, desenvolvimento, direitos humanos, direito internacional e política alimentar. Além de sua pesquisa acadêmica, Margulis possui vasta experiência profissional na área de formulação de políticas internacionais e foi representante canadense na Organização Mundial do Comércio, na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
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A GeoStrategy Initiative, sediada no Scowcroft Center for Strategy and Security, utiliza o desenvolvimento de estratégias e a prospecção de longo prazo para servir como principal referência e articuladora de análises e soluções relevantes para políticas públicas, visando a compreensão de um mundo complexo e imprevisível. Por meio de seu trabalho, a iniciativa busca revitalizar, adaptar e defender um sistema internacional baseado em regras, a fim de promover a paz, a prosperidade e a liberdade nas próximas décadas.
Image: Photo by Andres Medina on Unsplash